PROJETO DE CONSTRUÇÃO DE HABITAÇÃO SOCIAL COM ALUNOS DE COLÉGIO
Justificativa do projeto
O presente projeto visa oferecer uma vivência que tenha como norte principal a criação de relações entre os diferentes universos, extratos sociais e experiências de vida que coexistem no interior da mesma sociedade, buscando a criação de um diálogo que tenha como objetivo responder algumas perguntas centrais: Até que ponto as diferentes práticas sociais, influenciadas e determinadas por meios e condições de vida diferentes, produzem, em um mesmo contexto social, visões de mundo e modos de vida diferentes? Quais seriam os efeitos da descoberta de que a exclusão social não gera uma separação absoluta entre os extratos sociais? Como podemos pensar nossas ações tendo em vista que somos cúmplices e agentes da mesma sociedade, que produz exclusão social para realizar a manutenção da mesma organização que é partilhada por todos nós?
A resposta para tais questionamentos exige uma dupla demanda que é por um lado, teórica e, por outro, essencialmente prática. A demanda teórica cria as condições básicas para que o educando consiga se inserir de forma orientada, no contexto histórico em que a humanidade se encontra atualmente. É preciso situar-se em seu tempo para que saibamos quais são as conseqüências de estar vivo nesse mesmo tempo histórico. Neste sentido, a teoria, proveniente da Filosofia e da sociologia, busca elucidar as grandes tendências de uma época, de onde surge uma visão de mundo dominante e modos de vida coerentes com tal visão de mundo. Esse estudo é ainda mais importante quando vivemos em um mundo globalizado em que medidas de produção, de consumo e de relações seguem tendências muito próximas nos mais variados contexto regionais. Sendo assim, a parte teórica do projeto encontra seus fundamentos em textos da filosofia e da sociologia, artigos de revista, jornal e internet, que possam criar esse panorama da atualidade fundamentando o conhecimento de nossa época. Além disso, existem outras áreas do saber na escola que direta, ou indiretamente, ajudam a construir o panorama geral da atualidade e que podem se inserir no projeto. Referimo-nos às disciplinas de história e geografia, entre outras.
Mas de quê esse panorama geral, que visa situar o estudante em seu tempo, não dá conta? O que podemos acrescentar à contextualização para que ela deixe de ser apenas um conteúdo a mais, oferecido pela escola? A resposta a tais questionamentos nos remete diretamente às condições de experiência de nosso tempo. Hoje se sabe de tudo, tem-se informação disponível sobre tudo o que acontece no mundo inteiro, contudo, pouco se aprende sobre as reais condições de existência em nossa sociedade quando, imagens e discursos, criam noções de nossa realidade sob uma ótica espetacular. Daí surge a percepção de que o conhecimento que proporcionamos, apenas em sala de aula, ainda carece de elementos básicos para que o estudante possa criar um diálogo aberto com o que é a realidade experimentada cotidianamente pela maioria das pessoas. Não podemos estabelecer um diálogo sincero com o mundo estando fechados e protegidos pelos muros da escola.
Deve ficar claro, que não pretendemos realizar uma crítica às instituições escolares ou ao tipo de conhecimento que é oferecido em seu interior, mas sim detectar a necessidade de novas práticas para que alguns de seus objetivos educacionais mais caros sejam atingidos.
É sob esta perspectiva que a demanda prática do projeto, um dos pontos centrais que nos auxiliará a responder aos questionamentos iniciais que lhe motiva, ganha relevância e salta aos olhos como uma de suas partes mais importantes. Buscamos novas práticas como elemento que possa injetar uma grande carga de experiência na teoria.
Para que possamos injetar essa carga de experiência em nossas práticas teóricas, e gerar um diálogo de fato aberto e direto com o que chamamos aqui de realidade das maiorias, buscamos aliados fora da escola que estejam desenvolvendo trabalhos sociais de importância e que tenham, ao mesmo tempo, abertura para participação de adolescentes. É aqui onde a escola encontra-se com o projeto da ONG “Um Teto para meu País”. Essa instituição não governamental atua em quinze países da America latina, combatendo e denunciando a extrema pobreza produzida como efeito dos modos de organização social em que vivemos.
A busca pelo encontro da escola e de seus alunos com essa instituição e seus tipos de prática social é fruto de uma convergência de interesses. À instituição, ainda em fase inicial em nosso país, interessa abrir novas frentes, não apenas de captação de voluntários, mas também voltadas à educação e formação social. Às escolas pode interessar o tipo de vivência e o ganho de experiência que é proporcionado àqueles que participam de seus projetos.
O trabalho do “Teto” tem como principal objetivo o combate e denúncia à extrema pobreza como meios para sua erradicação. A primeira das três fases de seu projeto consiste em: estabelecer contato e criar vínculos no interior de comunidades carentes. Essa inserção acontece por meio de contato com a liderança comunitária, detecção dos moradores em situação de calamidade social, construção de “casas emergenciais” e acompanhamento das famílias beneficiadas para que se possa realizar a sondagem do impacto causado em suas vidas com o auxílio oferecido pela ONG, e todos seus voluntários, geralmente jovens universitários.
As fases seguintes do projeto desenvolvido pelo “Teto” encontram-se operantes no Uruguai e no Chile, países nos quais a ONG atua há mais tempo e já possui experiência em construção com jovens do ensino médio. A segunda fase do projeto visa à produção de meios para que as comunidades beneficiadas possam receber os serviços mínimos necessários para saírem da situação de vulnerabilidade. A partir desse ponto, quando já existe disponibilidade de serviços como saúde, educação, auxílio jurídico e fornecimento de micro-créditos, inicia-se a terceira fase do projeto. Nesta etapa o objetivo é fomentar na população a busca por mudanças definitivas, que proporcionem inserção e participação social além de condições de vida auto-suficientes e de qualidade.
O possível ponto de convergência de interesses e objetivos em comum entre escolas e ONG se dá mais explicitamente na primeira etapa. Onde ambos os lados e realidades inseridas nesta dialogo social (voluntario e beneficiado) trocam, por meio da convivência direta e imersão cultural, experiências e conhecimentos. É neste ponto em que se inicia o processo no qual as partes envolvidas, por meio do reconhecimento do outro, passam a compreender qual o seu posicionamento nesta organização social e quais são suas possibilidades de atuação e interferência.
É justamente essa possibilidade de aproximação que nos interessa, pois é de onde surgem as experiências de troca que buscamos com esse projeto. Trocas que aproximam realidades de vida distantes, possibilitando uma resignificação das imagens que criamos em relação àquilo que não conhecemos. Talvez, esse seja um caminho interessante para que possamos perceber e dar a perceber aos nossos alunos, que existem grandes diferenças no interior de nossa sociedade, mas que, sobretudo, existem grandes proximidades. Proximidade o bastante para que as pessoas repensem suas escolhas e seus conceitos, na medida em que, compreendam que suas ações nunca estão isoladas de um contexto, ou isentas de efeitos que interferem em dinâmicas de suas vidas particulares, mas que também se refletem no quadro geral de funcionamento da sociedade.
Perceber-se cúmplice, ainda que inconscientemente, da barbárie que nossa sociedade produz para se manter operante, é um grande acontecimento na vida de qualquer pessoa. Quem sabe, seja suficiente para pensarmos, com outros olhos e outro corpo, nossas ações e escolhas futuras, tendo em vista que, somos cúmplices e agentes da mesma sociedade, que efetivamente PRODUZ exclusão social para realizar sua manutenção!